domingo, 3 de novembro de 2013

Grelina: O Hormônio do Apetite

   A obesidade, dado sua elevada taxa de prevalência mundial e associação com várias doenças crônicas, tornou-se um importante problema de saúde pública. No mundo, cerca de 300 milhões de pessoas são obesas e 1,5 bilhão apresentam sobrepeso.
   O diagnóstico de obesidade baseia-se no cálculo do IMC, sendo considerado sobrepeso, medidas no intervalo 25<IMC<29,99 e obesidade, IMC≥30. A obesidade, além de ser uma doença estigmatizante, é um fator de risco para diversas doenças, como diabetes melito tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia, aterosclerose, doenças respiratórias, osteoartrose e alguns tipos de câncer.
   A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura, que deriva de um desequilíbrio entre a ingestão alimentar e o gasto de energia. O balanço energético é feito no hipotálamo, a partir da contribuição de vários hormônios, como a leptina, a insulina, a grelina, peptídeo YY, assim como a concentração plasmática de nutrientes, que informam ao SNC sobre os estoques de gordura corporal. Falhas, nesse sistema de controle, podem levar ao surgimento de obesidade.
   Nesta seção, enfocaremos o hormônio grelina e a sua atuação na fisiologia do controle do peso.
   A Grelina é um hormônio peptídico composto por 28 aminoácidos secretado pela mucosa do estômago. Foi descoberta em 1999 por Kojima, sendo apontado seu importante papel como estimulador da secreção do hormônio do crescimento (GH). Entretanto, logo foi descoberto também o envolvimento desse hormônio no balanço energético e controle do peso corporal. A grelina atua de forma oposta à leptina, seus principais efeitos ligados à homeostase energética incluem a estimulação da ingestão alimentar, o aumento da utilização de carboidratos, redução do gasto de gordura, aumento da motilidade gástrica e secreção ácida, dentre outros.
   A grelina atua sobre algumas regiões do hipotálamo, como o núcleo arqueado (ARC), o núcleo paraventricular e o hipotálamo lateral. O núcleo arqueado apresenta duas subpopulações de neurônios, os que produzem o neuropeptídeo Y (NPY) e a proteína relacionada ao gene Agouti (AgRP), neurônios NPY/AgRP, e os que expressam pró-ópio-melanocortina (POMC) e transcritos relacionados à anfetamina e cocaína (CART), neurônios POMC/CART. Os neurônios NPY/AgRP são estimuladores do apetite, ou seja, orexígeno, enquanto os neurônios CART são inibidores do apetite, ou seja, anorexígenos. O núcleo paraventricular e o hipotálamo lateral apresentam neurônios que produzem neuropeptídios orexígenos.
   A grelina exerce efeitos excitatórios sobre neurônios produtores de NPY/AgRP e sobre os neurônios do núcleo paraventricular e do hipotálamo lateral, estimulando o apetite. Este hormônio também atua sobre a via anorexítica , inibindo os neurônios POMC/CART e prevenindo, assim, a perda de apetite.
   A grelina tem um pico antes das refeições, caindo abruptamente 30 minutos após a alimentação. Entretando a grelina está elevada em situações de baixa ingesta, como na anorexia nervosa, restrição calórica e caquexia. Já em situações de alta ingesta calórica e em indivíduos obesos, a grelina está baixa, o que revela uma relação indireta entre a taxa sérica de grelina e o IMC. Outra situação em que a grelina está elevada é a Síndrome de Prader-Willis, um transtorno genético decorrente de uma deleção no cromossomo 15, caracterizado por hiperfagia, retardo mental e hipogonadismo.
   Tendo em vista que a grelina atua como estimulador do apetite e da ingesta alimentar, sua administração (fármacos agonistas) ou inibição (fármacos antagonistas) podem ser utilizados no tratamento da caquexia em indivíduos com câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica e insuficiência cardíaca crônica e no tratamento da obesidade, respectivamente.

Referências:
Tucci, Sonia. Grelina en regulación del apetito y papel em obesidade y transtornos alimentarios: Abordajes terapêuticos – Scielo;
van de Sande-Lee, Simone; Velloso, Licio A. Disfunção hipotalâmica na obesidade/ Hypothalamic dysfunction in obesity – Scielo;
Susan M. Galel, V. Daniel Castracane & Cristos S. Mantzoros. Grelina e controle da Energia de Homeostase - NewsLab - edição 64 - 2004;
Daniel Damiani, Durval Damiani. Sinalização cerebral do apetite/ Appetite brain sinalization;
Romero, Carla Eduarda Machado; Zanesco, Angelina. O papel dos hormônios  leptina e grelina na gênese da obedidade - Scielo.

Por Débora Saraiva
                

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